quinta-feira, 10 de março de 2011

Beto..Saí da Rua!

A cena foi rápida! Provavelmente, menos de 1 minuto se passou do momento em que saí da portaria do prédio pensando no que significam esses 34 anos de tantas histórias que removidas assim, num consultório de terapia, quase parecem histórias de uma outra pessoa..que há muito eu não visitava, não via...não falava..!

Saí olhando para o chão e andando devagar para dar tempo! Tempo de quê? A princípio de acender 01 cigarro, antes de chegar ao carro onde alguém já me aguardaria. Mas acho que o que eu queria do tempo era poder retornar a mim mesma...! A essa de agora...distante...quase paulistana! Que pode andar por essas ruas estranhas de pessoas desconhecidas, sem se importar com a falta que um mundo conhecido e familiar pode fazer.

Parei junto à calçada, estratégicamente colada ao prédio para facilitar uma eventual rota de fuga..(em São Paulo a neurose é sempre maior..!) e olhando para o lado esquerdo, assim sem pensar muito bem em nada, tentando me reconectar com a sensação de estar aqui nesta cidade de tanta gente...vi o "Beto"!

Não, eu não sabia o nome dele naquele momento, ele não era alguém que já pudesse ter visto antes...! Nenhuma familiaridade havia na sua imagem. Beto era naquele momento pra mim apenas uma figura que me chamou a atenção por estar parado fora da calçada olhando para frente, meio que num balaço de corpo estranho. Ao reconher a figura de um homem de boné e agasalho numa atitude meio "suspeita", apenas por prevenção, achei melhor monitorar qualquer outro movimento "estranho" que ele pudesse adotar e me assim me resguardar...

Quando aquela figura começou a andar em linha reta na direção do fluxo de carros, ainda no asfalto, logo criei um outro conceito (pré) para ele: - era um apenas um bêbedo decidi!

E por pura arrongancia humana me dei displicentemente, o direito de manter os olhos naquela figura, ninguém se importaria que que pusesse meu olhar "piedoso" sobre ela, nem ele mesmo, pois ele certamente não podia notar-me, ele definitivamente não tinha recursos para isso!

Meu olhar acompanhou-o vagarosamente no seu passo...fui covardemente esquadrinhando a sua imagem, conforme cambaleantemente ele andava. Fiquei ali parada, sem me importar se meus pensamentos poderiam ser decifrados nas expressões que não me preocupei em refreiar imaginando que triste vida de um rapaz tão tão jovem, bêbedo aquela hora do dia, andando a esmo...sozinho pelo meio da rua!

Sem me dar conta criei mais uma história triste para ser a história dele! Eu estava no auge da minha pena, quando num corte certeiro, pôs-se diante de mimq uma outra imagem que me puxou! Só depois percebi o som dauela voz, que ecoou de uma outra figura que eu não tinha se quer notado antes, absorta no meu direito de analisar a vida alheia.

- Beto...Saí da rua!

A voz veio de uma mulher mais velha, com ar de quem já tinha lutado com a vida, com aquele olhar de quem já viu muito e nem tudo foi bom! De quem já tinha visto seu filho ser olhado tantas vezes da mesma forma. Ela me olhou firmemente, não exatamente num tom ameaçador, mas como alguém que quer se fazer entender:

- Sim Beto, tem nome! Sim ele está rua, mas faz isso sempre! Mas sim eu estou aqui, eu ando ao lado dele e o protejo como posso! Sei que esta rua não é tão movimentada ao ponto de estar de fato em tão grande risco! Sim eu o deixo andar na rua desta maneira porque sei que é o que ele precisa dentro do universo dele! Sei o limite do que faria mal a ele! E neste momento o seu olhar "piedoso" é mais arriscado para ele que a rua! Ainda que ele não veja, eu vejo! E você está errada! Beto tem sim quem o proteja!

- Da rua.... de olhares piedosos!

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